quarta-feira, 1 de agosto de 2012

Trabalho temporário

De muitos relacionamentos complicados e esquisitos, me apareceu um novo! Bem trabalhoso...

Virei amante! Por que não?! Amante também se apaixona pelo cara, talvez... errado, e ai coração manda mais que a razão ou qualquer moralidade social e monogâmica.

Enfim, sem querer entrar nesse assunto ainda, virei amante! Ou melhor, estou tendo um affair!

Amante numa definição no filme Caramuru, aparece como sendo aquela que é igual esposa mas não precisa cozinhar (ou algo assim).

Pronto! Nunca curti muito cozinhar mesmo! Só fazia para agradar meus namorados, como ele não é namorado ainda nem preciso me preocupar com isso!

Na minha concepção, amante é aquele trabalho freelancer que você procura no final do ano, porque é fácil conseguir e porque na verdade está tentando entrar de na cabeça do cara na empresa e virar fixa!

E ai a gente se esforça e dá um p* trabalho duro pra conseguir... mas talvez a gente seja só mais uma que a empresa precisava e depois descarta, ou talvez a gente possa ser contratada com carteira assinada e todos benefícios possíveis!

sexta-feira, 27 de julho de 2012

Soluços anestesiados

Todo aquele amor e que fielmente foi amor puro, mas agora foi e já não é, deixa marcas, cicatrizes, machucados. As vezes são visíveis, as vezes não.
Seja numa lágrima que não para de escorrer, seja num olhar que está perdido, seja num pedacinho de alma que acaba de morrer.
E não adianta! Gritamos e gritamos, alto, alto, cada vez mais e mais, a dor parece ser tão forte e sentimos que não há mais lugar para ela de tão grande que é. Nosso corpo a sente por inteiro.
Toda dor real, merece ser sofrida e assim sentimos que realmente foi verdadeira. Sofrer ao extremo e se matar por isso, é falta de amor próprio.
Pensamentos confusos, perguntas mal respondidas, sentimentos estranhos. Dor, amor, ódio, raiva, pena de si mesmo e de repente vem mais ódio, mais ódio, mais raiva, mais dor,mais vontade de gritar e aquelas lágrimas que não param nunca de escorrer e parecem mais uma enxurrada lavando tudo isso que nos faz mal.
Mais lágrima, mais lágrima, começa a arder, arder...quando de repente, mais que de repente, aparece. Aquela calmaria. As lágrimas ainda estão lá! Mas elas não querem mais escorrer. Só sobra um choro escondido, um choro abafado, um choro que já não é mais choro, são apenas soluços. Soluços anestesiados. 


sábado, 21 de julho de 2012

O Click

Uma mulher sempre espera encontrar AQUELE cara. Aquele que faz a cabeça girar, que faz ela ficar pensando 24h por dia nele e que fica lembrando do quão bom é sentir o perfume dele. 

Simplesmente aquele cara que nos leva a uma síndrome de paixonite aguda! 

Mas o que exatamente é necessário pra gente sentir esse CLICK? O click que a gente sente no final do primeiro encontro e então, a gente sabe que está perdida?!

Eu sai com um cara com um corpo espetacular, cara de mau, mas com um coração mole. Me mandou mensagens fofas depois do encontro, e deu mil indícios que está disponível para muitos outros encontros. Mas o bendito do click não veio junto...nem no encontro...nem quando eu li as mensagens!

Ele preenche boa parte dos pré-requisitos a namorado, mas eu não consegui por algum motivo me ligar nesse canal e ficar assistindo essa nova novela. 

Mas também não mudei de canal! Deixei nesse enquanto coloquei no guia pra ver quais outros programas estavam passando. Precaução de não ter nada melhor. 

Vou ver agora se acho algum outro programa, se fico nesse mesmo, se coloco uma série que já vi várias vezes, mas que é sempre divertido ver de novo, ou se vou tirar um cochilo no sofá! ;D


quinta-feira, 19 de julho de 2012

Baby, I'm back

Depois de mil anos sem escrever, a gente vai perdendo a habilidade e não é nada parecido como andar de bicicleta!

Infelizmente, parei de escrever porque troquei minhas amigas palavras por um namorado que não soube me valorizar. E como todo relacionamento em que amigos são trocados, as palavras me perdoaram e estamos tentando voltar ao relacionamento antigo em que nos divertíamos como nunca. Afinal, bons amigos acabam esquecendo essas coisas porque são eles que vão sempre nos amar de verdade e sempre vão nos estender a mão. E ai que reconhecemos quem eram os amigos e quem eram os colegas, pois na amizade verdadeira, tudo volta a ser como era antes.

O ruim, é que essa 'habilidade' (que talvez nunca foi tão boa, mas me divertia!), está perdida no misto de sentimentos confusos que ainda sinto em relação a todos relacionamentos que consegui obter nestes últimos tempos.

Tentei colocar em palavras toda a confusão que eu sinto, e o resultado foi que as frases acabaram ficando confusas também.

É como se eu estivesse escrevendo vários livros ao mesmo tempo e um vento soprou tão forte que bagunçou todas as histórias. Toda minha vida.

Agora, tentar recolher todas as folhas do chão e tentar me reorganizar.



quarta-feira, 13 de junho de 2012

Cupidos, corações e rosas quebradas

             A madeira do balcão vibra junto com o celular, torna o pequeno som quase ensurdecedor aos ouvidos dele. Uma mão sem vontade segura o aparelho e o coloca em modo silencioso. A mesma mão se volta agora para o copo de cerveja e o leva até os lábios, que são esperados por outros.
           O aconchegante ambiente do barzinho estava lotado de casais, o amor transbordava pelas janelas e fazia os vidros ficar embaçados, a musica ambiente era um calmo misto de piano e poucas notas de violino. Era o tipo de musica nascida para aquelas ocasiões.
            Ela deveria estar pirando nesse momento, atordoada entre as paredes de seu apartamento à dois quarteirões dali. Ele gostava muito dela, muito mesmo, mas por algum motivo, não conseguia se portar como manda o figurino. Não tinha paciência para comédias românticas, não gostava mesmo de ficar escolhendo flores, achava que existia coisas mais importantes que caixas de bombom.
            Era por esse motivo, esse motivo tão idiota, que nem ele entendia bem, que estava evitando passar a noite desse outro dia 12 com ela. Talvez não teria paciência para o clima romântico que deveria pairar sobre os dois, preferia o evitar.
            A tela do celular brilhou e o rosto dela surgiu, mais uma ligação perdida.
            Deu um gole na cerveja e desviou os olhos para a janela ao seu lado. A garoa fina, gélida, batia devagar no vidro, sonhando em ser forte como a chuva. No outro canto do bar, a porta da frente se abriu e um belo par de olhos azuis entrou estremecendo os ombros, agradecendo o calor agradável dali de dentro. Fechou o guarda chuva e foi se sentar no balcão, a dois bancos de distancia de um cara que afagava despreocupado um celular e dava um gole de cerveja.
             Ela pegou o próprio celular e deu uma espiada nas horas, estava 1 hora atrasada, não fazia mal, amanha de manha estaria 12 horas atrasadas e se sentiria tão normal quanto agora, o problema seria ele, com toda certeza. Pensou nas possibilidades, e soltou um suspiro, daqueles longos que tem o poder de exprimir cansaço, desanimo e desalento em um único tom. Isso pareceu ter despertado o transe do cara da cerveja.
            Uma olhadela para o lado, um par de belos olhos azuis encontra-se com dois pequenos poços de mel.
            -Que desanimo mulher. Fica tranqüila, homens atrasam mesmo. – bebericou o liquido gelado que agora se acumulava apenas no fundo do copo.
            Ela deu um sorriso de canto de boca, mostrando apenas um pouco de seus dentes que brilhavam de tão brancos.
O silencio pairou por uns instantes entre eles, o celular mostrou o rosto contornado por cabelos loiros novamente, que recebeu apenas um olhar, mas nenhuma voz de resposta. Quem suspirou dessa vez foi ele, e foi ela quem falou:
            - Então vocês atrasam pelo simples prazer de atrasar, pelo visto.
            -Perdão?
            -Quando eu cheguei voce estava olhando o celular chamar, e agora de novo e bem, voce não esta atendendo, se te ligam, geralmente é porque estão te esperando, mas voce não parece com muita vontade de chegar na hora, onde quer que tenha que ir.
            Ele soltou um riso rouco que o fez jogar os ombros pra frente.
            -Mulheres e seu poder de observação. É, eu não tenho muita pressa de atender mesmo. Não sei bem se de atender ou se de enfrentar o que tem a ser dito.
            É mágico como nós temos essa facilidade a entregar nossos segredos a desconhecidos que cruzam nossos caminhos em lugares quaisquer. Bancos de bares, pontos de ônibus, filas de banco, é apenas nos dizerem um ‘oi’ e logo estamos mostrando fotos dos nossos demônios pessoais que levamos com a gente pra todo lugar.
            Ela soltou um ‘hum’ e pediu uma cerveja também, virando-se depois para seu colega:
            -Então voce está com problemas com a companheira? Que beleza ein, justo no dia dos namorados.
            A musica de fundo do bar era agora um hit do momento. As notas baixas eram calmas, ao mesmo tempo em que exalavam um toque de humor negro. Era gostosa de se ouvir.

Now and then I think of when we were together...

-Não, não diria bem que problemas, nós nos damos bastante bem, é só que eu não tenho paciência para esse climinha todo. Essa coisa toda de ficar abraçado comentando como a luz da lua esta bonita e como nosso amor é infinito. Ficar vendo filmes que contam a história de casaizinhos que vivem brigando, sofrendo desencontros e depois se beijam no por do sol em cima de uma colina genérica qualquer. Isso é tão ridiculamente comercial, sei lá, é como se...
            -Como se nós amassemos segundo um manual de instruções. Como se amor fosse mesmo dizer “eu te amo” e dar sorrisos depois disso. É uma data comercial, apenas. Não é um dia diferente, é um dia qualquer. Amor não faz aniversário, é atemporal, quando se ama alguém se ama todo dia, na mesma intensidade, não se escolhe um dia ou outro pra enaltecer o sentimento, se faz isso todo dia.
            -Exatamente.
            Ele empurrou o copo de cerveja para o lado dela, ele deslizou e foi para um metro de onde estava antes. Levantou-se e se sentou no banco ao lado dela.

You can get addicted to a certain kind of sadness...

            -E voce, que faz aqui sozinha? Solteira?
            -Não, eu tenho um namorado. Um namorado que, aliás, esta me esperando num restaurante a quinze minutos daqui, mas não tenho vontade de ir vê-lo.
            -Nossa, e pra que deixar o coitado esperando?
            -Haha, o sujo falando do mal lavado! Eu não sei, é só que ele é grudento demais, sabe? Eu gosto dele, ele me trata bem e coisa e tal, mas é exatamente o tipo que eu lhe disse. Ele precisa que eu diga a ele que o amo de cinco em cinco minutos. Fica perturbado se não mando uma mensagem para ele todo santo dia. Sabe, eu acho que amor seja mais que isso, realmente.
            -Estar com alguém tem que ser uma filosofia de vida, voce bem disse. Não é necessário mesmo que nós fiquemos vivendo em “o vento levou” todo dia. Sabe, abraços de vez em quando é bom, beijos , sexo, companhia. Mas porque tem que ser tudo baseado nisso? Porque só os olhares que transbordam paixão tem que ser mágicos? Porque os presentes tem que ter forma de coração? Porque temos que encher de flores, cartas, musicas melosas as pessoas de nossas vidas? Porque não simplesmente as TER em nossas vidas não é a maior prova de amor?
            -Realmente, nós ficamos tão loucos quando achamos que a pessoa não nos olha mais do jeito que olhava no começo que perdemos a razão às vezes. Eu fazia bastante isso quando era mais nova, achava que porque meu namorado não me olhava com o mesmo brilho nos olhos do começo o sentimento tinha acabado. É difícil nós entendermos que pessoas, olhares, gestos mudam, mas nem por isso muda o sentimento. O amor e suas mil e uma caras.

But you didn't have to cut me off...

            -É bem verdade, mil e uma caras, acho que é por isso que nós sofremos tanto por amor, ou evitamos tanto o amor. É muito fácil de se ver errado num sentimento que é tudo a toda hora. É difícil aceitar uma coisa que é tão infinitamente completa e ao mesmo tempo tão penosamente fragmentada com uma certa consistência, nós só temos essa capacidade quando temos a experiência dos nossos pais, eu acho.
            -Acho que sim, ou porque achamos que o amor é um padrão de comportamento. Achamos que nossos namorados, namoradas, esposas, maridos, tem que se comportar segundo um padrão, eles tem que deixar a vida de lado por nós, tem que aprender a ser carinhosos se não o são, tem que aprender a ser atenciosos se não o são e coisa e tal. A diversidade é o que torna as pessoas tão mágicas. Acho que nós confundimos a ordem das coisas, o amor nasce de como a pessoa é, nós nos apaixonamos pelo que a pessoa é. Não é o sentimento que molda a pessoa, é a pessoa que gera o sentimento...
            - Nós sempre esperamos demais mesmo não é? Ao invés de apenas amar quem nos ama.
            Os olhos dos dois subitamente se encontraram. Ele notou como ela tinha uma beleza exótica, os olhos azuis em contraste com os cabelos negros cacheados que descansavam preguiçosos pelas costas dela. Ela viu como os traços fortes dele combinavam perfeitamente com os doces olhos cor de mel e o sorriso de garoto em um rosto tão masculino.

Make out like never happened and that we were nothing...


           -Sabe, acho que realmente deveríamos fazer isso.
           -É, eu tava pensando a mesma coisa.

And I don't even need your love...

           -Mesmo?
           -Somos dois estranhos, nos encontramos aqui, num bar qualquer, justo hoje, no dia dos namorados, quer dizer, deve querer dizer alguma coisa não? Não sou muito de destino, mas acho que a casualidade explica muita coisa.
           -Eu também.

But you treat me like a stranger and it feels so rough...

            -Então tudo bem, não vejo mal nenhum nisso.
            E com o olhar fixo um no outro, ligados por essa certa magia que nos liga a desconhecidos, sempre agora parte da duvida um do outro, eles se movem em perfeita sincronia. Ele sorri, joga uma nota de 20 no balcão, pega o celular e o coloca no bolso, pensa onde vai conseguir achar, às 9 da noite, um famigerado buque de rosas brancas. Ela sorri, se olha no espelho do balcão e ajeita as madeixas negras, pensa se terá, na bolsa, a maquiagem necessária para fazer alguns poucos retoques antes de chegar ao restaurante.
            Na porta os dois trocam um olhar cúmplice, a garota diz ao garoto:
            -Eu nem sequer perguntei seu nome.
            -É, eu pensei em perguntar o seu, mas acho mais legal se ficar por isso mesmo. Vou gostar mais de pensar que eu conversei com uma filosofia de vida hoje, e não uma pessoa com um nome. Acho que torna a coisa toda mais especial, mais verdadeira.
            -haha, tudo bem então bonitão, vê se te cuida, ok? E cuide bem de sua menina.
            -Pode deixar bonitona, e vê se trate bem desses teus olhos azuis, seja boa para teu menino.

            Mais tarde naquela mesma noite, ele tinha sua menina nos braços, sentado aconchegadamente no sofá do apartamento dela, ao lado de um vaso com lírios vermelhos. Enquanto a garoa fina continua a cair, lhe dava beijos nos cabelos morenos que cheiravam morango e refletia como, vez ou outra, não era bom ter com ela um momento de romantismo, ele deixou de se preocupar com o contexto, e passou a prestar mais atenção à companhia.
            Ela, depois de comer um prato de raviólis e tomar um vinho tinto delicioso com o seu pequeno carente percebeu, enquanto alisava os cabelos curtos dele, o quanto era bom ser amada de um jeito tão puro e tão sincero como aquele. Ela havia aprendido a apreciar aquele amor tão grande que mal cabia no tempo que ele lhe oferecia sem pedir nada em troca.
            Não se trata de flores, nem de chocolates, nem de filmes. Trata-se apenas do sentimento que justifica tudo isso. Que nós dá motivos para sorrir sem querer, para chorar de alegria, e para gostar daquela saudade gostosa que nós sentimos daquela pessoa especial.

Sempre paciente, sempre generoso, esse é o amor. Não apenas de hoje, mas de todos os dias de nossas vidas, para quem ama e para quem, um dia, virá a amar e ser amado.

by Rafa



domingo, 22 de abril de 2012

A nota mais sutil do mais doce veneno





Deixe estar, que o tempo é senhor de tudo.
                Muda a vida como notas de uma sinfonia.
                Ele entrou no cômodo vazio, lotado de memórias que não valia a pena ter, imerso em cheiros que impregnavam a alma e lá ficavam. Pôs a bolsa sobre a mesa e deixou-se cair na sua poltrona mais macia, bem em frente a sua janela preferida.
                Pousou suavemente o dedo no aparelho de som e deixou que a doce beleza de Wolgang lhe enchesse o coração e tapasse os buracos que ele mesmo fizera em tempos de delicadeza e doação.
                Sentiu uma leve corrente de vento que trazia consigo um fino aroma de lírios, tão conhecido, diretamente à seu anestesiado nariz, ouviu os passos leves ecoarem no corredor, cada vez mais audíveis a seus desconfiados ouvidos. Da leve sombra que se projetava na parede de sua sala de estar, viu-a surgir, bela como sempre, sedutora como sempre, com seus olhos de garota arisca. Viu-a andar com seu belo gingado até ele, cada passo uma harmonia quase incrível de movimento.
                Ela parou na sua frente, de pé, encarando-lhe por alguns minutos. Ele, confuso entre sentir-se extasiado ou aterrorizado, teve coragem apenas de à olhar de volta, admirando os finos traços de seu rosto, as acentuadas curvas de seu corpo bem desenhado.
                Continuou paralisado quando os braços daquela aparição se esticaram e suas mãos encontraram seu peito, que ao leve toque de suas palmas, retraiu-se. Prendeu a respiração quando ela sentou-se com movimentos vagarosos em seu colo. Conseguiu, com um esforço de semideus, levar as mãos a cintura dela.
                Quanto tempo ganharam olhando um para o outro?
                Fossem dez minutos, fossem dez décadas, ainda assim seria pouco.
                Muito pouco para um amor feito para ser eterno.
                Encostou a ponta de seus dedos, tão trêmulos, naquela face que habitara seus sonhos e seus pesadelos, sentindo a sua delicadeza. Contornou com o indicador os lábios vermelhos que lhe tiravam o fôlego, tão quentes e tão doces como o mel. Um mel feito de puro veneno.
                Foram esses mesmos lábios vermelhos que os deles encontraram.
                Dez mil volts espinha abaixo, dez mil litros de adrenalina despejados de uma vez na corrente sanguínea. Nasce como um beijo leve, tímido, que ganha forma, reconhece o terreno onde vivia tempos antes, e torna-se um frenesi de pura vontade.
                Um frenesi de corpos separados pelas incongruências da vida.
                Um frenesi de almas que se perdem pela falta de vontade.
                Um beijo, um despertar, uma chama fugaz de felicidade.
                Seus corpos uniam-se como se fossem apenas um. Braços vorazes buscam espremer um gole que fosse de alma, músculos contraiam-se frente ao desejo que brotava do cerne físico. Eram dois, eram um, eram o início e o fim de algo muito maior. Entre gemidos abafados e unhas cravadas, nascia a inocente beleza do sentimento.
                Juntos, constituíam uma única entidade, uma mistura perfeita do carnal e do sublime.
                A última nota de Wolfgang lhe chama de volta a realidade. Abre os olhos, desamparado, para o vazio imenso que lhe faz companhia. Sem lírios e sem beijos, só lembranças.
                Detestava dormir quando ouvia Mozart.
                Ainda mais quando não era pelos dedos dela que ele cantava.
                É assim, a sutil maestro que é a vida.
                Do allegro ao adágio, em um único compasso.
                Um solitário compasso.

By Rafs

domingo, 15 de abril de 2012

Estórias da vida moderna


    Vamos sorrir a cabelos ao vento e deliciar-se com olhares desejosos.
               
    Anita era uma bela garota, com seus olhos cor de mel e seu gingado todo dançado.
    A mulher dos sonhos: delicada como uma flor, sensual como uma sereia.  E ela adorava isso, fingia não saber, fingia ser normal, gostava de deleitar-se com a vontade que despertava em corpos alheios, com as idéias que plantava nas mentes que se derretiam por ela.
                Anita era o diabo em forma de anjo.
                Que mulher era Anita.
                Era daquelas almas que se regojizavam por ser bela, e contentava-se com isso. Pior, bastava-se disso.

                Roberto era um garotão capa de revista.
                O físico de um deus, o intelecto de um arado. Aproveitava o poder da imortalidade de seus músculos, exibindo-os ao calor do sol que lhe acolhia com todo seu carinho e seu amor.
                O modelo de macho alfa: Perfeitamente alinhado, corretamente moldado, barriga pra dentro, peito pra fora. Olhares de sedução, ferormônios afiados como corte de navalha.
                Três séries de doze diariamente, um capítulo de Eça por década.

                Nando era ordinário. Simples e mortalmente comum.
                Lia quando lhe era ordenado, escrevia quando lhe era ordenado. Votava em presidentes sempre iguais e escolhia um punhado de vereadores quaisquer. Vivia a vida que lhe corria frente aos olhos e lhe encarava todo santo dia gritando a ouvidos surtos: “reaja”.
                Não era o alfa, não era o beta. Não conhecia grego, conhecia apenas os times da rodada e a ultima enchente de São Paulo.

                Unidos, invariavelmente, pela mesma paixão. Que dava olhos diferentes, a seres tão diferentes.
                Anita encosta-se toda linda, toda sua, no balcão do bar, ignora os olhos estalados de Nando e lhe ordena uma vodka com algo qualquer. Nando obedece a seu amor depositando goles de sua alma como se tentasse aquecer o frio que o gelo destilava ao copo. Anita, alheia ao calor de seu servo, observa o ambiente, nutrindo-se do desejo alheio.
                Roberto aproxima-se dela e lhe sussurra ao pé do ouvido:
                “Mas que saúde, ein?”
                À Anita reserva-se o prazer da escolha.
                À Roberto reserva-se o dom da conquista.        
                À Nando, reserva-se o silêncio da impotência.            
                Todas as companhias para os próximos meses.

                Juras foram ditam, paixões vazias foram senhoras dominadoras e dores foram sentidas apenas no âmago.
                Três meses depois, quando Anita já havia se acabado em um amor doentio por Roberto este foi pra outros cantos, viver sua vida vazia em outros corpos como o dele. Anita encontra Nando, no mesmo bar de sempre, na mesma vodka de sempre.
                O olhar deles se encontraram.
                A boca de Nando se abre.
                E dela, que tanto sufocou palavras de amor jamais ditas para a bela Anita, que tanto foi suprimida pela vergonha e pelo medo, profere o vaticínio de ser futuro:
                “Com suco de laranja, ou de limão?”
               
                Outro punhado de tempo depois, os cabelos de Anita brilhavam novamente, o físico de Roberto requentava-se ao sol de dezembro e o silencio de Nando, continuava a mata-lo.
                Bem vindo ao mundo do amor líquido.
                Onde paixões, não duram mais que uma ligação.



by Rafa